Iniciativa de empresa global busca mitigar impactos da pecuária, enquanto Senai CETIQT aproveita pelos proveniente da tosa de cães
Ao redor do mundo, grandes empresas se esforçam para diminuir o impacto ambiental negativo de sua produção pecuária – comprometendo-se, em alguns casos, com metas de carbono neutro para as próximas décadas.
Nesse contexto, a DSM, empresa global de origem holandesa voltada para saúde, nutrição e biociência, desenvolveu o Bovaer, um suplemento nutricional animal que promete diminuir as emissões de gases de efeito-estufa (GEE) do gado bovino – notadamente o metano (CH4). O intuito é contribuir para reduzir a pegada ambiental da carne, do leite e dos produtos lácteos.
Durante a COP26, em Glasgow, na Escócia, foi tomada inclusive uma iniciativa inédita: mais de 100 países se comprometeram a reduzir os níveis de emissão de metano em 30% até 2030 como parte dos esforços para mitigar o aquecimento global. O foco sempre foi o CO2 e agora o metano também entrou no radar.
As ações da DSM estão alinhadas à estratégia da Confederação Nacional da Indústria (CNI) rumo a uma economia de baixo carbono, baseada em quatro pilares: transição energética, mercado de carbono, economia circular e conservação florestal.
Em setembro, a DSM, que mantém fábricas em Pecém (CE), Marabá (PA), Ibiporã (PR), Mairinque e São Paulo (SP), recebeu autorização para comercializar o Bovaer no Brasil e no Chile. Assim, os dois países se tornaram pioneiros na aplicação do suplemento.
Segundo a DSM, o Bovaer é uma solução cientificamente comprovada para o desafio do metano do arroto nos bovinos: um quarto de colher de chá da solução por vaca, por dia, reduz a emissão de metano entérico em cerca de 30% para vacas leiteiras, e em porcentagens ainda mais altas, até 90%, para o gado de corte.
Funciona assim: após a alimentação, a solução entra em ação imediatamente, suprimindo a produção de metano no estômago. Em seguida, é decomposta, sem comprometer o bem-estar do animal.
Clean Cow – Conhecido como projeto Clean Cow (Vaca Limpa), o esforço colaborativo de cientistas e parceiros em torno da criação do Bovaer levou mais de dez anos e incluiu 45 testes em fazendas em quatro continentes. Mais de 48 estudos sobre o suplemento foram publicados em revistas científicas independentes.
Um teste com o Bovaer, conduzido na Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), entre 2016 e 2017, por exemplo, revelou reduções na emissão de metano entérico em até 55%. Em regiões não tropicais, a redução pode chegar a 35%, de acordo com o estudo.
“O teste de carne bovina com o Bovaer na Unesp destaca o potencial do suplemento para uma pecuária radicalmente mais sustentável na América Latina”, diz o presidente da DSM Latin America, Mauricio Adade. “Estamos ansiosos para colaborar com os setores agrícolas do Brasil para reduzir ainda mais sua pegada de carbono”, resume.
O diretor de Programa da DSM, Mark van Nieuwland, concorda. “O último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas afirmou que uma rápida redução das emissões de metano poderia reduzir a propagação do aquecimento global no curto prazo e ter um efeito positivo na qualidade do ar. Sabemos que os setores agropecuários reconhecem essa oportunidade de mudança e estão ansiosos para agir”.
Cães – Em 2017, o Centro de Tecnologia da Indústria Química e Têxtil (Senai CETIQT) do Rio de Janeiro se tornou parceiro de um projeto que também envolve animais e a sustentabilidade na indústria.
Iniciativa da veterinária e designer de moda Dóris Carvalho, de Goiânia (GO), a ideia do projeto Fur You é minimizar o lixo de pet shops e clínicas veterinárias e dar um destino sustentável aos seus resíduos – em geral encaminhados a aterros sanitários –, usando os pelos de cães provenientes da tosa como matéria-prima para a produção de um fio têxtil.
A designer estima que uma cidade como Goiânia, de 1,5 milhões de habitantes, produz, por mês, cerca de 3.5 toneladas de pelos proveniente da tosa de cães.
O projeto levou a uma nova fibra que poderá se transformar em produtos como bolsas, sapatos e roupas. O êxito na confecção do fio aconteceu após testes realizados em uma máquina que o CETIQT utiliza para projetos têxteis inovadores.
Dóris explica que, no momento, estão ocorrendo negociações em torno da coleta de resíduos, de sua separação e esterilização, e que serão realizadas por uma cooperativa de mulheres que saíram da penitenciária e estão buscando uma nova oportunidade na sociedade.
A empresária observa também que “as pesquisas para encontrar outras fibras naturais continuam, mas o objetivo é produzir as peças utilizando ao máximo os resíduos das tosas”. Segundo ela, a primeira coleção será lançada no início de 2022.